Caminhada de 100 km, com perfil diversificado de andarilhos, é cheia de atrativos turísticos que revelam a costa capixaba
Os Passos de Anchieta é uma trilha de sucesso entre peregrinos que viajam até o Espírito Santo e turistas em busca de natureza e aventura no litoral capixaba. A caminhada se repete quinzenalmente, assim como fazia o padre Anchieta. A mais tradicional reúne mais de três mil peregrinos neste feriadão de Corpus Christi.
De quinta (31) até domingo (3) será realizada a 21ª edição da caminhada oficial. Cada passo é uma nova descoberta para quem revive o caminho percorrido pelo jesuíta. Mais do que uma prática saudável ou que evidencia o fervor religioso, a trilha oferece experiências que reúnem atrativos ecológicos, religiosos, sítios históricos e gastronomia diversificada.
O percurso do primeiro dia sai da Catedral de Vitória e percorre 25 km até a Barra do Jacú, em Vila Velha. Até Setiba, em Guarapari, são 28 km, no segundo dia de peregrinação. No sábado são 24 km até Meaípe, ainda em Guarapari, e no domingo, 23 km até a cidade histórica de Anchieta, onde fica o santuário Nossa Senhora da Assunção, erguido pelo jesuíta em 1597 com ajuda dos índios tupis. A trilha pode ser feita nos dois sentidos. Seguindo a sabedoria indígena, boa parte do trajeto é feito pela praia, nas marés baixas, quando a areia fica solada e facilita a caminhada.
O roteiro reconstitui o trajeto dentro de considerável exatidão histórica e, no sentido inverso, vai da Aldeia de Reritiba (cidade de Anchieta) até a Vila de Nossa Senhora da Vitória (a capital), onde o religioso dirigia o Colégio de São Tiago, atual Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo e abrigo simbólico do túmulo de Anchieta. Auxiliado pelos índios temiminós, ele fazia o trajeto de 14 léguas, duas vezes por mês, desde que se recolheu na vila indígena da costa capixaba, onde viveu 10 anos até a morte, em 1597. Ainda no Espírito Santo, além de Reritiba, o padre jesuíta também fundou Guarapari e São Mateus.
Ao resgatar as pegadas de Anchieta, o turista se depara com as paisagens que inspiravam o andarilho da catequese na colônia, considerado o primeiro apóstolo do Brasil. O viajante se encontra consigo mesmo nas reflexões que a jornada oferece e descobre outros caminhos: o do coração, para quem tem fé; e o do conhecimento, para os que refazem o trajeto pelo valor histórico e o prazer de ir ao encontro da natureza. Seja qual for o motivo, o resultado ao término da trilha dá a gratificante sensação de vitória e um aprendizado sempre útil na simbólica caminhada da vida.
Anchieta – São José de Anchieta foi proclamado santo em 2014. Nasceu em 1534, em San Cristoban de Laguna, ilha de Tenerife, nas Canárias, arquipélago da costa da África que pertence a Espanha. Aos 14 anos foi para Coimbra, em Portugal, e ingressou na Companhia de Jesus, fundada em 1535 pelo primo, Inácio de Loiola. Anchieta chegou em Salvador, em 1553, aos 19 anos. Depois fundou Niterói (RJ) e o Colégio de Piratininga, que deu origem a São Paulo. Sua ação se estendeu até Pernambuco. Anchieta foi o autor da primeira gramática de tupi-guarani para facilitar o trabalho de evangelização dos índios.