No ano em que a imigração japonesa no Brasil completa 110 anos, o Rio de Janeiro ganhou um festival para celebrar a cultura nipônica. Em três dias, o público pôde experimentar iguarias, conhecer melhor os esportes originados no país, participar de oficinas e assistir apresentações musicais e folclóricas. O Japan Festival Rio Matsuri termina hoje (11) no Riocentro, na Barra da Tijuca, com a promessa de entrar para o calendário anual de eventos da cidade.
“É uma grande imersão na cultura japonesa. O participante não vem só pra ouvir música e comer, mas também para participar e interagir. O público não só correspondeu como superou as expectativas. Alguns expositores tiveram que organizar uma remessa extra de mercadorias de São Paulo”, disse Sérgio Takao Sato, diretor-executivo da Tasa Eventos, organizadora do festival. Ele estima que, ao todo, serão contabilizados entre 40 e 50 mil visitantes.
Segundo Takao Sato, várias capitais brasileira já fazem periodicamente festivais para promover a cultura do Japão. Os mais badalados ocorrem nos estados de São Paulo e Paraná, onde estão as maiores comunidades nipobrasileiras. Mas há também eventos em locais onde esses populações não são tão grandes, como Salvador, Brasília e Porto Alegre. O Rio de Janeiro, no entanto, ainda não havia entrado no circuito. “A ideia agora é fazer sempre no mês de março. Porque é um mês onde não há festivais em outros estados. E aí é mais fácil atrair os expositores”.
Na concorrida Praça de Alimentação, os amantes da culinária japonesa experimentaram iguarias típicas que não são facilmente encontradas em restaurantes no Brasil. Um exemplo é o okonomyaki, uma espécie de panqueca recheada com legumes.
“Houve um workshop de culinária com o chef Shin Koike. Ele é o único no Brasil que tem a titulação do governo do Japão de embaixador da culinária japonesa. Também fazemos uma palestra sobre o saquê, com Celso Ishiy, que é considerado o principal sommelier da bebida no brasil. Então tivemos o que há de mais representativo da cultura japonesa que temos no país”, acrescentou Takao Sato.
O esporte também ganhou espaço no Japan Festival Rio Matsuri. “Fizemos uma mini-aula de judô bem sintetizada com técnicas de projeção, imobilização, chave de braço, estrangulamento. E encerramos com o ju-no-kata, que é um kata da flexibilidade do judô, apresentado por dois professores de alta graduação”, explicou o professor João de Deus Brandão Junior. O kata é um conjunto de técnicas fundamentais e um método de estudo da luta marcial.
João de Deus lembrou que o Brasil se tornou uma potência no judô. O país já conquistou 22 medalhas olímpicas na modalidade. “O judô foi criado no Japão em 1882 e veio para o Brasil com a imigração japonesa. Aqui, se enraizou na nossa cultura. Mas as nomenclaturas permaneceram sendo utilizadas dentro da língua japonesa”, ressaltou.
O evento também proporcionou momentos de diversão conjunta para adultos e crianças. Um exemplo foi a oficina de mangá, os famosos quadrinhos japoneses. Outro foi o workshop de origami e kirigami ministrado pelo engenheiro civil Edson Urakawa. “Minha mãe me ensinou o origami quando ainda era criança e desde então nunca parei. É uma paixão. O origami é a dobradura em papel e o kirigami é o recorte em papel”.
Música, dança e cosplay
Na programação musical, se apresentaram artistas reconhecidos da comunidade nipobrasileira como Joe Hirata, Karen Ito e Suzana Sano, cantores com discos gravados, premiações nacionais e participações em eventos no Japão. Houve ainda apresentação de grupos de danças folclóricas e de taiko, a percussão japonesa.
No mesmo palco, subiram os amantes do universo cosplay, pessoas que se fantasiam de personagens. Ícone da cultura pop japonesa, eles estão entre as atrações do festival que mais mobilizam público. Profissionais cosplayers que se apresentam em eventos e amadores desfilavam vestimentas que acostumamos a ver em desenhos animados e filmes. Em uma evidência da globalização, personagens japoneses, como os Cavaleiros do Zodíaco, se misturavam com outros dos Estados Unidos, como Robocop, Mulher Maravilha e Caça-Fantasmas.
A cultura cosplay foi ainda estimulada pela organização do evento. Os fantasiados não precisavam pagar os ingressos no valor de R$ 25. Clara Fernandes, de 12 anos, aproveitou o estímulo e se aventurou nesse universo pela primeira vez. Ela se vestiu da jedi Ray e trouxe ao seu lado o robô BB-8. “Eu adoro Star Wars e minha mãe me acha muito parecida com a Ray. Ela e meu tio me ajudaram com a fantasia”.
A administradora Amanda Pimentel disse ter achado legal, mas não é o que mais lhe salta aos olhos. “Acho mais interessante a cultura tradicional japonesa”. Além das apresentações musicais, lhe atraiu as exposições de objetos das províncias japonesas, de fotografia dos patrimônios mundiais do Japão e de bonsai. Para ela, o festival chegou em boa hora. “Estou planejando viajar ao Japão em setembro. E, como não tenho muito contato com a cultura japonesa, pensei que seria uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais”.